Jogos bárbaros: Abathor é meu indie favorito dos últimos anos
De tempos em tempos, eu encontro um jogo indie pelo qual eu me apaixono. Foi assim com Vampire Survivors e com El Paso, Elsewhere. Cada um deles, por motivos diferentes, conquistou minha atenção e até hoje, os considero exemplares excelentes dos jogos digitais – independente do sucesso que alcançaram depois. Atualmente, Abathor, lançado em 2024, ocupa esse espaço no meu coração. É parte de uma renascença do que chamo de “jogos bárbaros”, um subgênero (?) de jogos de ação que me leva direto para a minha infância.
Explico: quando eu era pequeno, em algum ponto dos anos 1980, eu fui apresentado a algumas obras que me marcaram muito: as HQs em preto e branco da Espada Selvagem de Conan, O Bárbaro; os filmes do próprio Conan e outros personagens de ‘sword and sandals’ como Red Sonja e Kull: O Conquistador. Foi a mesma época em que comecei a me interessar muito por videogames, e jogos ao estilo Ghouls ‘n Goblins estavam entre meus favoritos. Sword of Sodan, Rastan e Magic Sword evocavam aquele mesmo clima de mistério e aventura que as histórias de Robert E. Howard (que muito tempo depois, percebi que tinham muito em comum também com o horror cósmico de H.P. Lovecraft, mas essa é outra história).
Basicamente, o que eu chamo de jogos bárbaros são games de ação com progressão lateral, combate ‘hack n’ slash’, plataformas e em que o personagem do jogador – um bárbaro ao estilo Conan, ou um cavaleiro de armadura, enfim, algum boneco ‘medieval’ – pode morrer com alguns poucos golpes dos inimigos, que avançam implacavelmente em sua direção ao longo das fases. Para combatê-los, você equipa armas e itens mágicos que dispara contra os oponentes.
O jogo do vídeo acima, Rastan, foi lançado pela Taito nos fliperamas em 1987, é provavelmente o grande padrão de qualidade desse nicho dos joguinhos de ação e plataforma. O jogo teve algumas sequências e foi adaptado para o Master System e para o portátil Game Gear, assim como ZX Spectrum, MSX2, PC e Apple II, mas o original do arcade ainda é o meu favorito. Com cenários super detalhados para a época, um herói bárbaro fortão, cores fortes e uma grande variedade de inimigos, é um clássico que definiu muito do que se deve esperar de jogos bárbaros. Recomendo bastante experimentar a versão inclusa na coletânea Taito Legends, para PlayStation 2.
Não muito tempo depois, minha paixão por fantasia, sword and sandals e literatura fantástica acabou me levando até o arcade de Golden Axe, com aquela tela de seleção incrível com os três heróis selecionáveis nas mãos de um enorme esqueleto, mas a franquia de hack ‘n slash da Sega merece um texto só para ela. Aguardem!
Jogos bárbaros hoje em dia
Corta para hoje em dia e jogos como Abathor, Volgar The Viking II e GladMort são alguns exemplos de lançamentos dos últimos anos que remetem a essa tradição que andava meio esquecida.
Abathor, produção da JanduSoft disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox One e Xbox Series X/S foi lançado em julho de 2024, e traz tudo de bom que esses jogos bárbaros tinham no passado, com mais uma série de recursos modernos, como multiplayer para até quatro jogadores. No game, você escolhe entre quatro personagens: Crantor, um bárbaro fortão ao estilo Conan; Sais, uma guerreira ágil equipada com espada e escudo; Kritias, um ladino mascarado; e Azaes, um guerreiro de cabelos brancos que usa magia e espadas, no melhor estilo Elric de Melniboné.
No controle de um deles, você vai explorar dúzias de estágios em uma trama típica de fantasia heroica, com monstros reptilianos atacando a civilização perdida de Atlântida. Os heróis vão cruzar pântanos, vilarejos arruinados, cavernas cheias de armadilhas, lutar contra chefes enormes e voar nas costas de uma águia gigante… e muito mais. É preciso memorizar padrões de ataque, sequências de saltos por plataformas móveis, dominar com precisão a distância dos seus golpes e movimentos, adquirir melhorias e saber quais são os itens especiais mais eficazes em cada situação – você só pode ter um (ou dois, às vezes) ativo por vez, mas com alguma manha, dá para carregar mais um no inventário.

A história é contada em texto entre uma fase e outra, e recomendo consultá-la e se deliciar com a mitologia que a JanduSoft construiu para seu mundo, que não tem medo de ser clichê – e a mesmo tempo, não exagera em referências ao ponto de perder a própria identidade. É um jogo viciante e gostoso de jogar, que recompensa a sua habilidade sem ficar exageradamente punitivo.
Desde o lançamento, o jogo recebeu várias atualizações gratuitas e é uma experiência excelente, em todas as plataformas que tive a chance de jogar. Particularmente, gosto muito de jogar Abathor no Steam Deck. A estética retrô e o gameplay de progressão lateral combinam demais com um portátil.
Outra franquia que pode chamar sua atenção caso queira se aprofundar nos jogos bárbaros modernos é Volgarr The Viking. A pegada aqui é mais parecida com a de Ghouls ‘n Ghosts, e a dificuldade, mais elevada. Recomendo ir direto para o segundo jogo, lançado em agosto do ano passado. O original é de 2013 e um tanto menos polido – mas se você está disposto a aceitar suas limitações, ainda é fácil de encontrar em todas as lojas digitais. Ou pode conferir um jovem Player Pablo que não tinha vergonha de tentar aprender a fazer vídeos no YouTube jogando o game quase 10 anos atrás (desde já, desculpe pela falta de qualidade).
GladMort é o jogo mais recente dessa lista e se aproxima ainda mais da pegada de Ghosts ‘n Ghouls, tanto visualmente quanto na movimentação do cavaleiro controlado pelo jogador. Financiado por fãs e lançado originalmente como um game de Neo Geo – mas disponível para PC e consoles atuais – o game é todo desenhado em pixel art 32-bits. São cinco fases que incluem estágios secretos, inimigos bem animados e armadilhas infernais. Cada movimento precisa ser calculado e executado com precisão, pois a morte está a apenas um ou dois hits de distância.
Já conhecia esses jogos bárbaros? Quais são os seus favoritos? Deixe aí sua indicação!
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