Sempre há espaço para inovação, mesmo em jogos Soulslike
Nos últimos dias, a produtora japonesa FromSoftware voltou ao topo das paradas de sucesso com seu mais novo lançamento: Elden Ring Nightreign, uma releitura curiosa do famoso RPG de ação, que adiciona elementos de roguelike e dá muito mais foco para o combate e o multiplayer ao jogo. Eu ainda estou dando meus primeiros passos em Nightreign, e prometo voltar aqui com uma opinião formada em breve, mas é preciso admitir, a FromSoftware mostrou que sempre há espaço para inovação, mesmo em jogos Soulslike.
A produtora que inventou o gênero tão influente atualmente não é a única a pensar assim. É fato que muitos jogos tentam imitar a fórmula desenvolvida pela FromSoftware, com variados graus de sucesso, mas sempre tem quem busque fazer diferente. O estúdio NEOWIZ, por exemplo, resolveu adicionar níveis de dificuldade mais acessíveis ao excelente Lies of P. Praticamente um sacrilégio para os fãs mais hardcore do gênero, mas é inegável que vai atrair mais jogadores para sua sombria versão do conto do Pinóquio.
Curiosamente, um ano atrás eu conversei com os desenvolvedores de outra franquia que prova que sempre há espaço para inovação, mesmo em jogos Soulslike. E a conversa rolou à sombra de outro lançamento da FromSoftware, a DLC Shadow of the Erdtree, que expandiu o mundo de Elden Ring e foi considerada até como “Jogo do Ano” pelos fãs. A produtora em questão é a Still Running, estúdio fundado em 2014 e responsável por Morbid: The Seven Acolytes, jogo lançado em 2020 e uma verdadeira jóia para quem curte games do estilo.
É sério, dá uma olhada nesse jogo:
Enquanto experimento as diferentes classes de personagens e desvendo os segredos do mapa de Nightreign, não consegui deixar de pensar nesta conversa com os devs da franquia Morbid, que publiquei na última edição da newsletter Extra Level, do Terra Game On, encerrada em julho do ano passado. Tanto que decidi revisitar aquela entrevista e trazer aqui para vocês. Espero que gostem!
Espaço para Inovação

A Still Running lançou no ano passado uma sequência para Morbid: The Seven Acolytes, seu sucesso de 2020. Chamado Morbid: The Lords of Ire, o novo jogo segue a história da protagonista Striver em sua jornada sangrenta para derrotar os Senhores da Ira num mundo sombrio cheio de influências do horror de H. P. Lovecraft, monstros de Cronenberg e tudo o que os fãs do gênero mais apreciam. A grande diferença é que, enquanto The Seven Acolytes adota um visual 2D em pixel art, The Lords of Ire parte para o tridimensional mais convencional dos jogos de hoje. Foi um movimento arriscado, mas, para seus criadores, necessário.
Para o estúdio, essa mudança é uma questão de desenvolvimento. “Para crescer, tanto como indivíduos quanto como companhia, você precisa dar passos ousados“, contou o roteirista, compositor e designer de som Simo Talasranta. “Nós amamos pixel art, afinal foi de onde viemos, com Zombie Kill of the Week, The Walking Vegetables, e Morbid: The Seven Acolytes. Mas depois de três jogos em pixel art, chegamos numa encruzilhada, na qual tivemos que decidir se continuaríamos como um estúdio de pixel art para sempre ou se daríamos um passo ousado rumo ao grande desconhecido“, explicou Talasranta. “Nós escolhemos a segunda opção“.
Morbid: The Lords of Ire não foi um projeto fácil para a Still Running. “Foi nosso primeiro jogo 3D em um novo motor gráfico. Mas ainda assim, valeu a pena dar esse passo, pois isso abriu novas portas, aprendemos novas habilidades e surgiram novas possibilidades para o futuro“, disse o produtor. “O desafio de criar algo novo é algo que cada artista encara diariamente em seu trabalho“.

Um dos traços mais atraentes da franquia Morbid sempre foi sua originalidade, a capacidade da Still Running de costurar elementos conhecidos de outras obras em uma tapeçaria macabra e fascinante é inegável. “Quando nós começamos a projetar o mundo de Morbid, queríamos que fosse um lugar realmente sem esperança, desolado, até niilista. E assim tivemos a ideia dos Gahars como a causa de todas as coisas ruins do mundo“, relembrou Talasranta. “Eles são similares aos Grandes Antigos do mythos de H.P. Lovecraft, na forma como corrompem a terra e suas criaturas, afetando mentes e corpos“.
Em ambos os jogos, o jogador assume o papel da heroína Striver. “Ela é a última esperança nesse mundo amaldiçoado, em uma missão fútil para derrubar os deuses“, disse o produtor, apontando um dos diferenciais de Morbid em relação a outros jogos semelhantes, que não costumam ter heróis predefinidos, embora o motivo original para a criação da Striver seja bem prosaico.
“Eu poderia dizer que ter essa protagonista icônica foi uma ‘grande visão artística’, mas na verdade foi uma questão de recursos“, admitiu Talasranta. “Nós somos um estúdio independente bem pequeno. Não temos os recursos dos grandes estúdios para criar vários modelos de personagem ou um sistema de personalização completo. Por isso, nossa única opção era fazer o jogo ao redor de uma única protagonista“. O espaço para inovação às vezes é criado pela necessidade!
Mesmo com recursos limitados, a Still Running luta para deixar sua marca no gênero dominado pela FromSoftware ao mesmo tempo em que tenta fugir de rótulos. “Nós nos referimos à Morbid como um ‘RPG de ação com elementos Soulslike’ ao invés de um ‘título Soulslike’“, frisou o produtor. “Para nós, cada jogo deve sempre trazer algo novo para a mesa, e por isso em Morbid nós demos uma boa sacudida no gênero, com vários recursos únicos em cada um dos jogos“. O resultado não foi nada mal, como você pode conferir abaixo:
“Um dos desafios de trabalhar com o gênero Soulslike é alcançar as expectativas dos jogadores“, revelou Talasranta, explicando que muitos fãs esperam por mecânicas de jogo específicas e consideram alguns outros recursos inaceitáveis em jogos do gênero. “Eu acredito que o gênero como um todo ainda está se desenvolvendo e seus elementos não foram todos definidos“, disse o produtor, traçando uma comparação com os jogos de tiro: “Assim como nós vimos a evolução do gênero FPS desde o Doom original, nós vamos testemunhar a evolução dos jogos Soulslike no futuro. Sempre há espaço para inovação“.
Morbid: The Seven Acolytes está disponível para PC, PlayStation 4, Switch e Xbox One. Sua sequência, Morbid: The Lords of Ire, pode ser encontrada no PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Switch, Xbox One e Xbox Series X/S.
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