Como o multiplayer de Nightreign preserva a magia de Elden Ring
Quando a From Software revelou Elden Ring: Nightreign, eu fiquei com um pé atrás. Por um lado, achei ousado o estúdio tão famoso por seus RPGs ‘old school’ experimentar com o que me parecia uma mistura de roguelike e battle royale. Por outro lado, temia que o jogo perdesse muito da magia e mistério que são elementos essenciais do gênero que a própria From Software estabeleceu, o tal do soulslike. Mas como acredito que sempre há espaço para inovação, mesmo nos jogos soulslike, decidi me arriscar. Após jogar algumas horas do novo Elden Ring, fiquei impressionado em ver como o multiplayer de Nightreign preserva essa magia e o mistério da From Software.
Este novo jogo de ação da produtora de Dark Souls e Sekiro é ambientado no mesmo mundo do arrasa-quarteirão Elden Ring, um dos jogos mais premiados dos últimos anos – e meu soulslike favorito. Trata-se de uma aventura independente dentro daquele universo, sem relação direta com a campanha épica do jogo original, embora reutilize muitos dos seus elementos. A From é conhecida por reaproveitar assets de seus jogos anteriores em novos projetos, mas em Nightreign é preciso reconhecer que ela gastou todos os créditos que tinha neste truque.
Assista ao trailer de visão geral de Nightreign para entender um pouco mais sobre o game:
Seu maior diferencial em relação ao Elden Ring original é que Nightreign reimagina completamente o design básico do jogo, combinando elementos de battle royale e de roguelike com seu combate brutal e calculado, e tudo em partidas multiplayer cooperativas para três jogadores. É engraçado que eu sempre pedi pela possibilidade de jogar Elden Ring cooperativamente, mas de uma forma mais tradicional. No jogo original, você pode invocar outros jogadores em áreas específicas e eu só queria poder jogar o game inteiro ao lado dos meus amigos. Bem, eu posso jogar Nightreign inteiro com os amigos, mas é completamente diferente do que eu esperava.
O multiplayer de Nightreign coloca os jogadores para correr pelo mapa enquanto as Terras Intermédias são consumidas pela noite. Conforme o bando procura por itens e cumpre ou não missões secundárias, vai enfrentando mini-bosses e prosseguindo para uma batalha inevitável, pois o círculo vai se fechando ao seu redor. Você tem liberadade para explorar, mas precisa fazer isso rápido e não há escapatória como no RPG: você pode evitar um mini-boss, mas vai acabar precisando encarar outro ali perto. Não há tempo para ficar mais forte enquanto evita os confrontos, ao menos não da forma tradicional de Elden Ring. Você melhora o personagem através dos seus equipamentos, outra diferença enorme.
O combate é o elemento central de Nightreign. Você escolhe entre classes de personagem pré-definidas, mais uma mudança drástica em relação ao original. Cada classe tem suas vantagens e especialidades, umas são mais exóticas e outras mais indicadas para quem está começando, e por aí vai. O sistema de classes também força os jogadores a lutarem juntos para sobreviver. A cada partida, tudo começa de novo, então não há aquela progressão lenta do personagem e seus equipamentos, somente a do jogador, que vai ficando mais esperto e habilidoso – ou não!- a cada ciclo e tentativa. Admito que isso me fez experimentar ‘builds’ e classes que normalmente eu evito, como jogar com arco e flecha, por exemplo. Meio que não há nada a perder em escolher um boneco diferente do que se está acostumado.
Como funciona o multiplayer de Nightreign

O que percebi com o passar do tempo foi como funciona o multiplayer de Nightreign, ou melhor, como o jogo não me conta como ele funciona. Não há lobbies ou salas de chat, você não tem como saber com quem vai entrar numa partida (só se usar senhas para jogar com os amigos, no mesmo molde de Elden Ring ou outros jogos anteriores do estúdio). Não tem como saber, por exemplo, se um daqueles colegas já detonou todos os chefões e é um veterano calejado pronto para ajudar iniciantes. Também pode dar tudo errado e um dos seus colegas ser um sem noção. Mas isso também acontece em qualquer jogo multiplayer.
Você começa toda partida na Mesa Redonda, mas ao invés de uma sala abarrotada de jogadores correndo e dando cambalhotas, você vai para uma nova área de treino, onde pode experimentar suas habilidades e diferentes magias e equipamentos, o que é bem útil para se acostumar com as classes de personagem. Enquanto está lá praticando, o jogo vai escolher alguns outros lutadores, formar um grupo e mandar você para uma expedição. Quais critérios definem esse matchmaking? Não sei. E essa é a magia do multiplayer de Nightreign para mim, a forma que a From Software encontrou para preservar o mistério de Elden Ring em seu novo formato.
Ao manter os jogadores no escuro, a From acaba estimulando mais o trabalho em equipe. Os jogadores se comunicam com gestos, com marcações no mapa e por aí vai. Todo aquele sentimento de comunidade, um componente externo mas vital em cada lançamento da produtora, se faz presente aqui também.
Não é sempre a mesma coisa

Outro elemento muito legal é que mesmo com o foco nas partidas multiplayer de Nightreign, a From Software encontrou maneiras de surpreender e dar um toque de história para cada personagem. E como de costume, o jogo não te diz nada disso até que você descubra por conta própria.
Após vencer algumas expedições com um personagem, você ganha acesso a uma Remembrance, uma recordação do seu passado! Ela guarda uma missão que você precisa cumprir durante as partidas, ali no meio da correria contra o tempo e que não é compartilhada pelo grupo todo. OK, não isso é novo: qualquer jogador de Fortnite sabe que há muito para fazer no mapa do Battle Royale entre o pouso no começo da partida e os duelos no momento em que o círculo se fecha de vez. Mas essas missões secundárias me pegaram de surpresa, pois vão contra os objetivos óbvios das partidas multiplayer de Nightreign. Colher itens em algum canto do mapa, obviamente guardados por um mini-chefe, e convencer meus colega a ajudar, é um desafio refrescante que dá novo significado para a partida e para a relação entre o jogador e aquele personagem escolhido. É mais fácil com amigos, já que seus colegas aleatórios vão preferir correr para encontrar equipamentos melhores e melhorias para seus próprios bonecos.

Ainda assim, buscar completar as Remembrances vale muito a pena, não só por aquela rara dose de ‘lore’ sobre o personagem, mas porque no final, o jogador será recompensado com uma Relíquia valiosa e específica para aquele personagem, que poderá fazer toda a diferença nas batalhas adiante – além de fortalecer sua build e sua ligação com aquela classe de personagem. Pelo que eu li, há cenas adicionais no final da Terceira Noite para quem completa todas as memórias do seu personagem e isso é uma recompensa ainda maior para os jogadores que se envolvem no mundo do jogo.
Eu ainda estou longe de dominar todos os mistérios de Elden Ring: Nightreign, mas admito que esse experimento da From Software que me parecia estranho lá no começo, me conquistou e pretendo continuar explorando as expedições multiplayer de Nightreign por um bom tempo.
Publicado pela Bandai Namco, Elden Ring: Nightreign está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5 (que foi onde eu joguei), Xbox One e Xbox Series X/S.
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