Poucas franquias de videogame se reinventaram tão bem quanto Wolfenstein. A série virou sinônimo de tiroteio nos anos 1990 e chegou à geração atual como uma das melhores em termos de narrativa. Coisa rara, fez isso sem deixar para trás o que já rolou nas iterações mais antigas. Nesse review, vamos ver como Youngblood traz novas ideias para a série.
Anunciado como um “jogo menor” da franquia, Young Blood passou longe do meu radar, mesmo eu tendo adorado os games anteriores, como o excelente Wolfenstein II: The New Colossus, mas acabou me surpreendendo.
Ficha técnica
Bethesda | MachineGames, Arkane Studios | FPS | PC, PS4, Xbox One
Jogado no Xbox One X
Preços por plataforma (edição standard)
PC (Steam): R$ 115
PS4 (PS Store): R$ 114,90
Xbox One (Xbox Game Store): R$ 115
De fato, Youngblood é mais curto do que The New Colossus e tem um cenário mais limitado, mas nem por isso menos interessante. Ação cooperativa, áreas abertas para explorar e um sistema de missões a lá Destiny estão entre as novas ideias que Youngblood traz para a série.
Dupla do Barulho
Youngblood se passa em 1980, depois que BJ Blaskowicz e a Resistência expulsaram os nazistas dos EUA. No começo do jogo, temos um rápido vislumbre da vida do herói veterano e Anya criando as gêmeas Soph e Jessie, até que, uns anos depois, BJ desaparece sem explicação.
O FBI está procurando pelo herói de guerra, mas “Blaskowicz é o tipo de homem que só é encontrado se quiser ser encontrado”. Isso não impede as gêmeas adolescentes e sua amiga Abby Walker de partirem para a Europa em busca do pai desaparecido.
Jessie e Soph vão parar em Neu-Paris, versão da capital francesa controlada pelos nazistas, e precisam se aliar aos agentes da Resistance, explodir e metralhar nazis até atingir seu objetivo, em uma campanha que tem cerca de 10 horas de duração.
Você pode jogar com qualquer uma das duas e a única diferença, além do visual, está na arma inicial. Todas as armas e melhorias são habilitáveis para ambas as personagens e as duas tem as mesmas árvores de habilidades.
Jess e Soph compartilham um ‘pool’ de vidas extras e caso uma das irmãs seja derrubada em combate, a outra pode salvá-la antes da vida chegar ao fim. Além disso, as duas podem equipar diferentes gestos que oferecem bônus temporários para a dupla, como aumentar os pontos de vida ou armadura extra por algum tempo.
Essa é uma mecânica divertida e os movimentos funcionam como ‘dancinhas’ e outros emotes de jogos de tiro atuais… mas o uso desses poderes na cooperação entre os personagens me remeteu mais aos jogos da série Army of Two, da Electronic Arts.
Nas quebradas de Neu-Paris
O game foi feito pela MachineGames em colaboração com a Arkane Studios. A participação da produtora de Dishonored é responsável por como Youngblood traz novas ideias para a série.
Cada região de Neu-Paris é conectada às demais pelos túneis do metrô, que Jess e Soph utilizam para ir e vir da base subterrânea da Resistência, um grande hub onde os jogadores podem escolher as missões em que vão embarcar.
As diferentes áreas são cheias de lugares secretos para explorar em busca de colecionáveis, em uma escola menor do que os cenários da série Dishonored, mas ainda com a marca da Arkane.
O design de cada um desses grandes estágios semi abertos rendem boas batalhas contra as forças nazistas, principalmente quando você começa a topar com os inimigos mais poderosos.
A exploração de Neu-Paris e o retorno aos cenários já visitados são estimulados com a busca por moedas de prata e pelo ganho de pontos de experiência. É preciso dinheiro para evoluir as armas e subindo de nível você ganha pontos para desbloquear novas habilidades.
Há também elementos aleatórios, com missões menores que surgem durante as missões secundárias, como grampear uma sala de reunião ou roubar os dados de algum computador nazista. Essas missões são opcionais, meio repetitivas e servem mais para prolongar o tempo de jogo do que outra coisa, na minha opinião.
O melhor de Youngblood está abaixo da superfície, quando você começa a descer pelos três níveis das instalações Brother, o verdadeiro esconderijo da Gestapo parisiense.
Cada instalação Brother é uma raide bastante desafiadora, com uma arma especial para ser descoberta (Laserkraftwerk, Dieselkraftwerk e Electrokraftwerk) e chefões colossais para detonar.
Jogando Youngblood sozinho
Embora Youngblood seja planejado para jogar em dupla, também é um jogo bem competente caso você decida se aventurar sozinho. A irmã controlada pela Inteligência Artificial segue de perto as suas decisões sobre avançar furtivamente e é muito eficiente na hora de botar para quebrar.
Mais de uma vez eu me peguei assistindo Jess detonar nazistas enquanto eu me ocupava de coisas mais urgentes, como coletar moedas de prata ou comer uns pretzels num charmoso café em Neu-Paris.
A I.A. também é bem eficaz em coisas importantes como não ser morta facilmente pelos inimigos e saber a hora certa de usar seu poder especial para não desperdiçar recursos da dupla.
Onde a I.A. não funciona bem é nas batalhas contra os chefões. Ela vai parar na frente do inimigo e querer trocar tiros enquanto é bombardeada por lasers e explosivos. Nessas horas é muito melhor ter um amigo no controle.
Clima de “Sessão da Tarde”
A aventura de Jessie e Soph tem todos os elementos pesados e violentos que você está acostumado na série Wolfenstein, mas ao mesmo tempo, é engraçado e um pouco esquisito como rola uma certa… jovialidade… por conta das protagonistas adolescentes, como em um filme da “Sessão da Tarde”.
Desde a forma como elas vão parar na Europa no começo do jogo até as gírias e gestos das irmãs e de sua amiga Abby, é raro o momento em que elas se chocam com a violência sanguinolenta de tudo o que está rolando.
Na real, é um pouco incômodo quando você para para pensar: se Jessie e Sophie foram criadas no meio do nada nos EUA recém-libertados do domínio Nazista, como é que elas adotam expressões e maneirismos da juventude criada a base de MTV daquela época no mundo real?
As gurias tem algumas referências próprias, como os livros de detetive que só elas conhecem, mas falam gírias que o jogador vai identificar como “ah, ok, são os anos 80″… mas que funcionariam melhor com Bill e Ted ou os garotos de Stranger Things, do que com a nova geração da família Blaskowicz.
RPG ou tiroteio?
Youngblood traz novas ideias para a série de tiro, mas não acho que vá agradar a todos os fãs de Wolfenstein.
O mundo semi-aberto e missões cheias de indas e vindas pelos cenários de Neu-Paris esticam a experiência mas, por melhor que a Arkane seja em projetar esse tipo de fase, depois de um tempo as missões opcionais se tornam cansativas e descartáveis.
Ainda assim, eu apreciei a introdução de elementos de RPG como os níveis de personagem e também as mecânicas cooperativas que dão um gás para as batalhas – que já eram bem legais nos jogos anteriores.
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